Olá a todos
Raramente, na verdade nunca me desafiei a escrever sobre uma série de tv qualquer. Na verdade não achava que teria algum talento para dissecar o que eu vejo de uma determinada série e que pode não ter nada a ver com o que é apresentado na real. Há situações em que só percebo que algo aconteceu depois de ler uma resenha dessas espalhadas pelos inúmeros sites existentes google afora. Resolvi fazer o post pelo fato de ter muita dificuldade de achar textos na internet que falassem sobre a primeira temporada de Mad Men, isso me incomodou. Pode até não dar em nada e eu posso desistir de tudo daqui a pouco. Mad Men é uma série espetacular, ambientada na década de 60 ela mostra o cotidiano da agência de publicidade Sterling Cooper situada na famosa Madson Avenue em Nova Yorque e no personagem principal, o diretor de criação da empresa, Don Draper. Uma prova de que a série do canal a cabo AMC vem provocando no público e na crítica foi a quantidade de prêmios recebidos. Ela foi vencedora por quatro vezes consecutivas o Emmy na categoria melhor série dramática nos anos 2008, 2009, 2010 e 2011, igualando o recorde de The West Wing que venceu também de forma consecutiva nos 2000, 2001, 2002 e 2003.
Midge Daniels |
O primeiro episódio, "Smoke Gets in Your Eyes" já traz uma boa discussão surgida no início da década de 60 sobre os riscos à saúde do uso de cigarros. O capítulo se inicia com a explicação do termo que dá nome à série, Mad Men foi usado para descrever os executivos que trabalhavam com propaganda na Madson Avenue na década de 50. E começa com Don Draper (Interpretado de forma magistral pelo ator Jon Hamm) está num bar tentando quebrar a cabeça para montar uma campanha para a marca de cigarros Lucky Strike. Na época, as pesquisas passaram a questionar os laudos médicos das empresas que atestavam que o cigarro era seguro. Na década de 50, estudos apontavam que o cigarro podia causar câncer por isso os fabricantes passaram a colocar filtros nos cigarros. Com o avanço da divulgação dos males que os cigarros causavam a Lucky Strike precisava de uma campanha que dissesse aos seus clientes que eles poderiam continuar fumando normalmente. Mas como passar esta mensagem com tantas informações nocivas sobre o produto. É neste contexto que conhecemos a primeira amante de Draper, a pintora Midge Daniels. Don recorre a ela em busca de ideias para montar a campanha.
Don Draper e Rachel Menken |
Depois somos apresentados aos outros personagens da série, Peter Campbell arquitetando sua despedida de solteiro e a nova secretária de Don, Peggy Olson que recebe dicas de como proceder de Joan, uma espécie de chefe das secretárias. Somos também apresentados ao ótimo Roger Sterling que renderá bons diálogos com Draper ao longo da série. É interessante notar como a angústia toma conta de Draper que quase entra em desespero pelo fato de não ter nada para mostrar aos executivos da Lucky Strike. Isso é demonstrado na cena em que ele acaba dormindo na sala enquanto observa uma mosca no teto da sala. Na primeira cena dele com Peter Campbell já há um pequeno estranhamento evidenciando que a relação entre os dois não vai ser tão amistosa assim. Um dos pontos altos do episódio foi a reunião com Rachel Menken que queria posicionar a sua marca próximas à marcas de elite como a Chanel, porém, Don queria apostar em alternativas populares como cupons de desconto. Rachel não concordou com isso dizendo que não estava interessada em donas de casa e, sim em pessoas que estivessem dispostas a pagarem caro para frequentar o estabelecimento. Don, não compreendeu o desejo da cliente se retirou ofendido da sala de reunião não aceitando ser contrariado por uma mulher, O machismo parece ser a marca da sociedade americana da década de 60, era impressionante a dificuldade dos homens em lidarem de igual para igual com as mulheres, quase sempre tratadas com inferioridade ou interesse sexual.
Marca de cigarros Lucky Strike |
Na reunião decisiva com os executivos da indústria de cigarros, Don ainda não tinha nada de concreto para apresentar, por isso Peter Campbell tomou à frente e, usando um relatório que pertencia a Don (estava no lixo na sala dele) conduziu a reunião mas sem muito sucesso. Quando os executivos da Lucky já estavam desistindo, Don deu o ar da graça e reverteu a situação com um argumento de que se todas as empresas de tabaco estavam no mesmo barco com respeito as questões de perigo à saúde, deviam desviar a atenção para outro aspecto do cigarro, algo que diferenciasse a campanha da Lucky de outros concorrentes recorrendo a aspectos do processo de produção para destacar que o tabaco utilizado pela empresa era torrado, um diferencial que poderia passar a imagem para os clientes de que o produto era confiável por ter este aspecto. E termina de forma brilhante dizendo "Anunciar está baseado em uma coisa: Felicidade. E Sabe o que é felicidade? Felicidade é o cheiro de carro novo. É Se libertar do medo. É um outdoor do outro lado da estrada , isso soa confiança que tudo o que você está fazendo está certo. Você está certo".
A campanha agradou aos clientes da empresa.
Peggy Olson |
Já na despedida de solteiro de Campbell, ele mostrou que não tem nenhum jeito com mulheres tratando uma das mulheres que sentaram à mesa com eles com certa violência forçando uma barra o que assustou e muito a garota. Essa falta de jeito revela um personagem bem problemático. Don foi convencido por Sterling à limpar a barra com Rachel já que a conta vale $3 milhões de dólares. Um ótimo diálogo foi produzido entre eles o que acabou levando o assunto para outra esfera quando Don perguntou a ela o porquê dela nunca ter casado. Rachel respondeu que nunca se apaixonou. Com uma visão terrivelmente cética em relação ao amor, Don descreveu o sentimento como se fosse algo trivial, nas palavras dele que poderia ser usada para vender meia-calça, vale apena transcrever na íntegra: "Oh, você quer dizer amor. Quer dizer o grande ajuste do coração onde não pode comer e não pode trabalhar e você... somente sai e se casa... e tem os bebês. A razão de não ter sentido isso é porque isso não existe. O que você chama de amor foi inventados por sujeitos como eu para vender meia-calça. Você nasce só e você morre só e este mundo apenas impões um grupo de regras a você para fazer você esquecer desses fatos, mas eu nunca esqueço. Vivo como se não houvesse amanhã porque não há nenhum". Após o eloquente discurso, Rachel conseguiu ver que há uma espécie de angústia em Don e ele resolveu desconversar sobre o assunto. No fim, Don chega em casa para ter um fim de noite com a esposa e os filhos e nem parece que viveu tanta coisa em apenas um dia. O Episódio termina com ele no quarto dando um beijo de boa noite nos filhos, família feliz se não fosse o comportamento tão irregular de Don, e penso que será assim durante toda a série. Depois de fracassar na noite do Bar, Peter vai até a casa de Peggy e consegue transar com ela. Ele ficou fascinado com a nova secretária de Draper e é outra parte da série que merece bastante atenção.
Grande abraço
Fernando dos Santos